O PAGANISMO SUPERIOR [b]
O PAGANISMO SUPERIOR
O aperfeiçoamento de qualquer sistema religioso dá-se de uma de três maneiras, ou de mais do que uma das três conjuntamente: a ) pela intelectualização dos seus elementos míticos componentes; b ) pela subjectivização desses elementos; c ) pela sua mera simplificação (complicação) exterior.
A intelectualização dos elementos componentes distingue-se da sua complicação pelo facto de que a intelectualização interpreta, ao passo que a mera complicação não interpreta. A intelectualização chega a um resultado extremo, supondo que aceita os elementos (como no caso presente, de facto, se supõe): à redução desses elementos a simbólicos ou símbolos. A complicação não envolve essa obra: apenas os conduz, a cada um, a um conteúdo mais complexo, a um alcance maior, portanto, sobre os sentimentos.
O paganismo seguiu um caminho natural ao intelectualizar-se; mas esse caminho foi perturbado pela erupção de elementos bárbaros, orientais, que desvirtuaram o sentido desse movimento.
A erupção do elemento oculto, estabelecendo uma base de aproximação com os credos orientais, deixou aberto o paganismo à invasão dos princípios daqueles credos, profundamente anarquizantes do paganismo, e da natureza humana.
A essência do paganismo está em 3 coisas:
1) A pluralidade dos deuses como essência de mitologia;
2) A adopção da criação como ideal humano;
3) A concepção do universo essencial como fenómeno essencialmente objectivo.
Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968.
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