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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

O céu de todos os Invernos

O céu de todos os Invernos

Cobre em meu ser todo o Verão...

Vai p'r'ás profundas dos infernos

E deixa em paz meu coração!

Por ti meu pensamento é triste,

Meu sentimento anda estrangeiro;

A tua ideia em mim insiste

Como uma falta de dinheiro.

Não posso dominar meu sonho.

Não te posso obrigar a amar.

Que hei-de fazer? Fico tristonho.

Mas a tristeza há-de acabar.

Bem sei, bem sei... A dor de corno...

Mas não fui eu que lh'o chamei.

Amar-te causa-me transtorno,

Lá que transtorno é que não sei...

Ridículo? É claro. E todos?

Mas a consciência de o ser, fi-la bas-

tante clara deitando-a a rodos

Em cinco quadras de oito sílabas.

3-4-1929

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

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