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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Valendo mais ou menos entre si

Valendo mais ou menos entre si

Várias formas de erro equidistantes

No seu valor real e a só verdade

Infinitamente inatingível.

                                A verdade

Intuitivamente, de repente

Se compreenderia, sem a dúvida,

Por todos; o universo não contém

Esta verdade. Porque pois buscar

Sistemas vãos de vãs filosofias

Religiões, seitas, pensadorias

Se o erro é a condição da nossa vida,

A única certeza da existência?

Assim cheguei a isto: tudo é erro,

Da verdade há apenas uma ideia

À qual não corresponde realidade.

Crer é morrer; pensar é duvidar.

A crença é o sono e o sonho do intelecto

Cansado, exausto, que a sonhar obtém

Efeitos lúcidos do engano fácil

Que antepôs a si mesmo mais sentidos,

Mais vistos que o usual do seu pensar.

A fé é isto: o pensamento

A querer enganar-se eternamente,

Fraco no engano, (...) no desengano,

Quer na ilusão quer na desilusão.

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

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1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.96).