4.1. Poesia lírica - A água da chuva desce a ladeira.
- A aranha do meu destino
- A ciência, a ciência, a ciência...
- A criança que ri na rua,
- A esperança como um fósforo inda aceso,
- A estrada, como uma senhora,
- A lavadeira no tanque
- A lembrada canção,
- A Lua (dizem os Ingleses)
- A mão posta sobre a mesa,
- A minha camisa rota
- A miséria do meu ser,
- A montanha por achar
- A morte chega cedo,
- A morte é a curva da estrada,
- À NOITE
- A novela inacabada,
- A nuvem veio e o sol parou.
- A pálida luz da manhã de Inverno,
- A parte do indolente é a abstracta vida.
- A quem a Natureza não fez belo
- A tua carne calma
- A tua voz fala amorosa...
- ABAT-JOUR
- ABDICAÇÃO
- Abismo de ser muitos! Noite Minha!
- Ah quanta melancolia!
- Ah, a esta alma que não arde
- Ah, bate levemente, mais levemente!
- Ah, como incerta, na noite em frente,
- Ah, como o sono é a verdade, e a única
- Ah, já está tudo lido,
- Ah, quanta vez, na hora suave
- Ah, quero as relvas e as crianças!
- Ah, sempre no curso leve do tempo pesado
- Ah, só eu sei
- Ah, toca suavemente
- ALGA
- Ameaçou chuva. E a negra
- Amei-te e por te amar
- AMIEL
- ANÁLISE
- Andavam de noite aos segredos
- Ao longe, ao luar,
- Aqui está-se sossegado,
- Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
- Aqui neste profundo apartamento
- Aqui onde se espera
- Aquilo que a gente lembra
- Árvore verde,
- As coisas que errei na vida
- As lentas nuvens fazem sono,
- As nuvens são sombrias
- As tuas mãos terminam em segredo.
- Às vezes, em sonho triste
- AUTOPSICOGRAFIA
- Basta pensar em sentir
- Bate a luz no cimo
- Bem sei que ela era a Rainha.
- Bem sei que estou endoidecendo.
- Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo
- Bem sei que todas as mágoas
- Bem, hoje que estou só e posso ver
- Bóiam farrapos de sombra
- Bóiam leves, desatentos,
- Brincava a criança
- Cai amplo o frio e eu durmo na tardança
- Cai chuva do céu cinzento
- Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa
- Caminho a teu lado mudo
- CANÇÃO TRISTE
- Cansa sentir quando se pensa.
- Cansa ser, sentir dói, pensar destrui.
- Cansado até dos deuses que não são...
- Canta onde nada existe
- CANTO A LEOPARDI
- CASA BRANCA NAU PRETA
- CEIFEIRA
- Cessa o teu canto!
- Cheguei à janela,
- Chove. É dia de Natal.
- Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
- Chove. Que fiz eu da vida?
- Chove?... Nenhuma chuva cai...
- Clareia cinzenta a noite de chuva,
- Começa, no ar da antemanhã,
- Como a noite é longa!
- Como às vezes num dia azul e manso
- Como é por dentro outra pessoa
- Como um vento na floresta,
- CONSELHO
- Contemplo o lago mudo
- Contemplo o que não vejo.
- Corno nuvens pelo céu
- CORPOS
- Criança, era outro...
- Dá a surpresa de ser
- Dá-me as mãos por brincadeira
- Dai-me rosas e lírios,
- De além das montanhas,
- De aqui a pouco acaba o dia.
- De onde é quase o horizonte
- Deixa-me ouvir o que não ouço...
- Deixei atrás os erros do que fui,
- Deixei de ser aquele que esperava,
- Deixem-me o sono! Sei que é já manhã.
- Deixo ao cego e ao surdo
- Dentro em meu coração faz dor.
- DEPOIS DA FEIRA
- Depois que o som da terra, que é não tê-lo,
- Depois que todos foram
- Desce a névoa da montanha,
- Desfaze a mala feita para a partida!
- Deslembro incertamente. Meu passado
- Desperto de sonhar-te
- Desperto sempre antes que raie o dia
- DEUS
- Deve chamar-se tristeza
- Divido o que conheço.
- Dizem?
- Do fundo do fim do mundo
- Do meio da rua
- Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
- DOBRE
- Dói-me o nevoeiro, dói-me o céu
- Dói-me quem sou. E em meio da emoção
- DOLORA
- Dorme enquanto eu velo...
- Dorme sobre o meu seio.
- Dorme, criança, dorme,
- Dorme, que a vida é nada!
- Dormi, sonhei. No informe labirinto
- Dormi. Sonhei. No informe labirinto
- Dormir! Não ter desejos nem esperanças
- Durmo ou não? Passam juntas em minha alma
- Durmo, cheio de nada, e amanhã
- Durmo. Regresso ou espero?
- Durmo. Se sonho, ao despertar não sei
- É boa! Se fossem malmequeres!
- É brando o dia, brando o vento.
- É inda quente o fim do dia...
- E ou jazigo haja
- E toda a noite a chuva veio
- É um campo verde e vasto,
- É uma brisa leve
- E, ó vento vago
- Eh, como outrora era outra a que eu não tinha!
- Eis-me em mim absorto
- Ela canta, pobre ceifeira,
- Elfos ou gnomos tocam
- Elle est si belle,
- Em outro mundo, onde a vontade é lei,
- Em plena vida e violência
- Em tempos quis o mundo inteiro.
- Em toda a noite o sono não veio. Agora
- Em torno a mim, em maré cheia,
- Em torno ao candeeiro desolado
- Enfia, a agulha,
- Entre o luar e a folhagem,
- Entre o luar e o arvoredo,
- Entre o sono e o sonho,
- Entre o sossego e o arvoredo,
- Era isso mesmo
- Eram varões todos,
- Escuta-me piedosamente.
- ESTADO DE ALMA
- EU
- Eu amo tudo o que foi,
- Eu me resigno. Há no alto da montanha
- Eu no tempo não choro que me leve
- Eu sou o disfarçado, a máscara insuspeita.
- Eu sou uma antologia.
- Eu tenho ideias e razões,
- Exígua lâmpada tranquila,
- Falhei. Os astros seguem seu caminho.
- Feliz dia para quem é
- Fiquei doido, fiquei tonto…
- Fito-me frente a frente
- Fito-me frente a frente.
- Flor que não dura
- Flui, indeciso na bruma,
- Foi um momento
- Fúria nas trevas o vento
- Gato que brincas na rua
- GLOSA
- Gnomos do luar que faz selvas
- Gostara, realmente,
- Gradual, desde que o calor
- Grande sol a entreter
- Grandes mistérios habitam
- Guardo ainda, como um pasmo
- Guia-me a só razão.
- Há em tudo que fazemos
- Há luz no tojo e no brejo
- Há música. Tenho sono
- Há no firmamento
- Há quanto tempo não canto
- Há quase um ano não escrevo.
- Há um frio e um vácuo no ar.
- Há um grande som no arvoredo.
- Há um murmúrio na floresta,
- Há uma música do povo,
- Hoje estou triste, estou triste.
- Hoje que a tarde é calma e o céu tranquilo,
- Hoje, neste ócio incerto
- HORA ABSURDA
- HORA MORTA
- Houve um ritmo no meu sono,
- I - A criança que fui chora na estrada.
- I - Sim, farei...; e hora a hora passa o dia...
- INCIDENTE
- INTERVALO
- ISTO
- Já estou tranquilo. Já não espero nada.
- Já me não pesa tanto o vir da morte.
- Já não me importo
- Já não vivi em vão
- Já ouvi doze vezes dar a hora
- Je vous ai trouvé,
- Lá fora a vida estua e tem dinheiro.
- Lá fora onde árvores são
- Ladram uns cães a distância,
- Lâmpada deserta,
- Lembro-me bem do seu olhar.
- Lembro-me ou não? Ou sonhei?
- Lenta e quieta a sombra vasta
- Leve no cimo das ervas
- Leve, breve, suave,
- Leves véus velam, nuvens vãs, a Lua.
- LIBERDADE
- LIGEIA
- Longe de mim em mim existo
- L’HOMME
- Mais triste do que o que acontece
- Maman, maman.
- Manhã dos outros! Ó sol que dás confiança
- MAR. MANHÃ
- Maravilha-te, memória!
- MARINHA
- Mas eu, alheio sempre, sempre entrando
- Mas o hóspede inconvidado
- Melodia triste sem pranto,
- Mendigo do que não conhece,
- Meu coração esteve sempre
- Meu coração tardou. Meu coração
- Meu pensamento, dito, já não é
- Meu ruído de alma cala.
- Meu ser vive na Noite e no Desejo.
- Meus dias passam, minha fé também.
- Meus gestos não sou eu.
- Meus versos são meu sonho dado.
- Minha mulher, a solidão,
- Minhas mesmas emoções
- Momento imperceptível,
- Montes, e a paz que há neles, pois são longe...
- Música... Que sei eu de mim?
- Na margem verde da estrada
- Na noite em que não durmo
- Na noite que me desconhece
- Na orla do vento movem
- Na paz da noite, cheia de tanto durar,
- Na quinta entre ciprestes
- Na ribeira deste rio
- Na véspera de nada
- Nada que sou me interessa.
- Nada. Passaram nuvens e eu fiquei...
- Não combati: ninguém mo mereceu.
- Não creio ainda no que sinto -
- Não digas nada!
- Não digas nada! Que hás-me de dizer?
- Não digas que, sepulto, já não sente
- Não é ainda a noite
- Não fiz nada, bem sei, nem o farei,
- Não meu, não meu é quanto escrevo,
- Não quero mais que um som de água
- Não quero rosas, desde que haja rosas.
- Não sei o quê desgosta
- Não sei quantas almas tenho.
- Não sei que desgosta
- Não sei que sonho me não descansa
- Não sei se é sonho, se realidade,
- Não sei ser triste a valer
- Não sei, ama, onde era,
- Não tenho que sonhar que possam dar-me
- Não tenho quinta nenhuma.
- Não tragas flores, que eu sofro...
- Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado;
- Não, não é nesse lago entre rochedos,
- Não: não digas nada!
- Nas entressombras de arvoredo
- Nas grandes horas em que a insónia avulta
- Natal... Na província neva.
- Náusea. Vontade de nada.
- Nesta grande oscilação
- Neste mundo em que esquecemos
- No alto da tua sombra, a prumo sobre
- No céu da noite que começa
- No chão do céu o Sol que acaba arde.
- No entardecer da terra
- No fim da chuva e do vento
- No fundo do pensamento
- No limiar que não é meu
- No mal-estar em que vivo
- No meu sonho estiolaram
- No ouro sem fim da tarde morta,
- Nos jardins municipais
- Nuvens sobre a floresta...
- O abismo é o muro que tenho
- O amor é que é essencial.
- O amor que eu tenho não me deixa estar
- O amor, quando se revela,
- O ANDAIME
- O céu de todos os Invernos
- O CONTRA-SÍMBOLO
- Ó curva do horizonte, quem te passa,
- Ó ervas frescas que cobris
- O grande sol na eira
- O LOUCO
- O mau aroma alacre
- O MENINO DA SUA MÃE
- O meu coração quebrou-se
- O meu sentimento é cinza
- O meu tédio não dorme.
- O mundo rui a meu redor, escombro a escombro.
- Ó naus felizes, que do mar vago
- O PESO DE HAVER O MUNDO
- O ponteiro dos segundos
- O que é vida e o que é morte
- O que eu fui o que é?
- O que me dói não é
- O que o seu jeito revela
- O rio que passa dura
- O ruído vário da rua
- Ó sino da minha aldeia,
- O sol às casas, como a montes,
- O sol doirava-te a cabeça loura.
- O sol que doura as neves afastadas
- O sol queima o que toca.
- O som contínuo da chuva
- O som do relógio
- O sonho que se opôs a que eu vivesse
- Ó sorte de olhar mesquinho
- O vento sopra lá fora.
- O vento tem variedade
- O véu das lágrimas não cega.
- Oca de conter-me
- Oca de conter-me
- Oiço passar o vento na noite.
- Oiço, como se o cheiro
- Olha-me rindo uma criança
- Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
- Onda que, enrolada, tornas,
- Onde a serenata?
- Onde o sossego dorme
- Onde pus a esperança, as rosas
- Onde quer que o arado o seu traço consiga
- Onde, em jardins exaustos
- Os deuses, não os reis, são os tiranos.
- Os teus olhos azuis são cor do céu
- Oscila o incensório antigo
- Ouço sem ver, e assim, entre o arvoredo,
- Outros terão
- Ouvi os sábios todos discutir,
- Paira à tona de água
- Paisagens, quero-as comigo.
- Pálida sombra esvoaça
- Pálida, a Lua permanece
- Parece às vezes que desperto
- Parece estar calor, mas nasce
- Parece que estou sossegando
- Passa entre as sombras de arvoredo
- Passa uma nuvem pelo sol
- Passam na rua os cortejos
- Passava eu na estrada pensando impreciso,
- Passos tardam na relva
- PAUIS
- PEDROUÇOS
- Pela rua já serena
- Pelo plaino sem caminho
- Pobre velha música!
- Põe-me as mãos nos ombros...
- POEMA
- Pois cai um grande e calmo efeito
- Por quem foi que me trocaram
- Por trás daquela janela
- Porque é que um sono agita
- Porque esqueci quem fui quando criança?
- Porque o olhar de quem não merece
- Porque sou tão triste ignoro
- Porque vivo, quem sou, o que sou, quem me leva?
- Porque, ó Sagrado, sobre a minha vida
- Pouco importa de onde a brisa
- Pousa um momento,
- PRESSÁGIO
- Pudesse eu como o luar
- Qual é a tarde por achar
- Qualquer caminho leva a toda a parte
- Qualquer caminho leva a toda a parte.
- Qualquer coisa de obscuro permanece
- QUALQUER MÚSICA
- Quando as crianças brincam
- Quando é que o cativeiro
- Quando era criança
- Quando era jovem, eu a mim dizia:
- Quando estou só reconheço
- Quando já nada nos resta
- Quando, com razão ou sem,
- Quanto fui jaz. Quanto serei não sou.
- Quanto fui peregrino
- Quase anónima sorris
- Que coisa distante
- Que fútil toda essa tristeza
- Que linda é quem não és!
- Que suave é o ar! Como parece
- Quem bate à minha porta
- Quem me amarrou a ser eu
- Quem me roubou quem nunca fui e a vida?
- Quem vende a verdade, e a que esquina?
- Quero dormir. Não sei se quero a morte,
- Quero ser livre insincero
- Quero, terei —
- Rala cai chuva. O ar não é escuro. A hora
- Redemoinha o vento,
- Relógio, morre —
- Renego, lápis partido,
- Repousa sobre o trigo
- Saber? Que sei eu?
- Sabes quem sou? Eu não sei.
- SCHEHERAZAD
- Se acaso, alheado até do que sonhei,
- Se alguém bater um dia à tua porta,
- Se estou só, quero não estar,
- Se eu me sentir sono,
- Se eu pudesse não ter o ser que tenho
- Se eu, ainda que ninguém,
- Se há arte ou ciência para ler a sina
- Se penso mais que um momento
- Se sou alegre ou sou triste?...
- Se tudo o que há é mentira,
- Sei bem que não consigo
- Sei que nunca terei o que procuro
- Sepulto vive quem é a outrem dado.
- Ser consciente é talvez um esquecimento.
- Serena voz imperfeita, eleita
- Servo sem dor de um desolado intuito,
- Sim, já sei...
- Sim, tudo é certo logo que o não seja,
- Sim, vem um canto na noite.
- Sob olhos que não olham — os meus olhos —
- Sol nulo dos dias vãos,
- Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
- Sonhei. Desperto. Um tédio doloroso
- Sonho sem fim nem fundo.
- Sopra de mais o vento
- Sopra o vento, sopra o vento,
- Sorriso audível das folhas,
- Sou o Espírito da treva,
- Sou o fantasma de um rei
- Sou um evadido.
- Súbita mão de algum fantasma oculto
- Talhei, artífice de um morto rito,
- Talvez que seja a brisa
- Tão linda e finda a memoro!
- Tão vago é o vento que parece
- Tece, amor, as grinaldas com que queres
- TÉDIO
- Tenho dó das estrelas
- Tenho em mim como uma bruma
- Tenho escrito muitos versos,
- Tenho esperança? Não tenho.
- Tenho pena até... nem sei...
- Tenho pena e não respondo.
- Tenho sono em pleno dia.
- Tenho tal sono que pensar é um mal.
- Tenho tanto sentimento
- Teu corpo real que dorme
- Teu inútil dever
- Teu perfil, teu olhar real ou feito,
- Todas as coisas que há neste mundo
- TOMÁMOS A VILA DEPOIS DUM INTENSO BOMBARDEAMENTO
- Treme em luz a água.
- Trila na noite uma flauta. É de algum
- Tudo foi dito antes que se dissesse.
- Tudo quanto penso,
- Tudo quanto sonhei tenho perdido
- Tudo que amei, se é que o amei, ignoro,
- Tudo que faço ou medito
- Tudo que sinto, tudo quanto penso,
- Tudo que sou não é mais do que abismo
- Tudo, menos o tédio, me faz tédio.
- Um cansaço feliz, uma tristeza informe
- Um dia baço mas não frio...
- Um muro de nuvens densas
- Uma maior solidão
- Uma névoa de Outono o ar raro vela,
- Universal lamento
- Vaga saudade, tanto
- Vaga, no azul amplo solta,
- Vai alta a nuvem que passa,
- Vai alto pela folhagem
- Vai lá longe, na floresta,
- Vai leve a sombra
- Vai pela estrada que na colina
- Vai redonda e alta
- Vai-te embora, Sol dos céus!
- Vão breves passando
- Vão na onda militar
- Vê-la faz pena de esperança.
- Vejo passar os barcos pelo mar,
- Velo, na noite em mim,
- Vem dos lados da montanha
- VENDAVAL
- Vento que passas
- Verdadeiramente
- Viajar! Perder países!
- Vinha elegante, depressa,
- VISÃO
- Vou com um passo como de ir parar
- Vou em mim como entre bosques,
- CHUVA OBLÍQUA
- EM BUSCA DA BELEZA
- FICÇÕES DO INTERLÚDIO